a sua Senhora do Carmo e o Santo Cristo do seu oratório estivessem alumiados, a sua alma em graça, e que ela pudesse fazer todas as semanas as suas confissões aos frades capuchinhos. Esta era, para tudo mais, uma senhora apática, gorda, de uma brancura anêmica, com uns olhos castanhos muito doces e um cabelo grisalho, curto, que ela cobria com uma touca preta de folhos encrespados. A saia, redonda e muito franzida, mostrava-lhe os pés largos calçados em duraque, e nas mãos finas e cor de leite tinha, ora o livro de orações, de folhas já denegridas nos ângulos, ora um rosário de âmbar benzido pelo bispo.
D. Itelvina não parecia crente. Ninguém a vira nunca de joelhos em frente ao oratório da irmã. Nenhum traço comum lembraria a outrem o parentesco entre ambas. Esta era alta, morena, de nariz forte e lábios finos.
A voz de d. Joana tinha inflexões brandas, de alma tranqüila; a voz de d. Itelvina tinha sibilações desafinadas, rouquejava ou tinia, como se saísse de órgãos de bronze. Nem as duas sabiam se se amavam.
Os bons dias e as boas noites eram trocados sem o beijo que confraterniza as almas. Toleravam-se, talvez, apenas; apoiavam-se mutuamente, guiadas pelo hábito.