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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Além d’isso a porta do pomar fechada! Tive de lhe atirar um empurrão. Ficou em pedaços.

Então um dos moços, o mais alentado, ruivo, com um queixo de cavallo, pensando que o Fidalgo censurava a frouxidão da porta pouco cuidada, coçou a cabeça, n’uma desculpa:

— Pois, com perdão do fidalgo!... Mas já depois da saída do Relho se lhe pôz uma travessa e fechadura nova... E valente!

— Qual fechadura! gritou, o Fidalgo soberbamente. Despedacei a fechadura, despedacei a travessa... Tudo em estilhas!

O outro moço, mais desembaraçado e esperto, riu, para agradar:

— Santo nome de Deus!... Então, é que o fidalgo lhe atirou com força!

E o companheiro, convencido, espetando o queixo enorme:

— Mas que força! a matar! Que a porta era rija... E fechadura nova, já depois do Relho!

A certeza da sua força, louvada por aquelles fortes, reconfortou inteiramente o fidalgo da Torre, já brando, quasi paternal:

— Graças a Deus, para arrombar uma porta, mesmo nova, não me falta força. O que eu não podia, por decencia, era arrastar ahi por essas estradas um bebedo com uma foice até casa do Regedor... Foi para isso que chamei, que gritei. Para que vossês o agarrassem, o levassem ao Regedor!...