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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

casarão arrefeceu, alargou, desde a morte da mamã. Ando aqui como perdido. E acredita, quando cá me demoro, são uns passeios tristonhos por esses jardins, pela Rua Grande... Ainda te lembras da Rua Grande?... Vou envelhecendo muito solitariamente, meu Gonçalo!

Gonçalo murmurou, por concordancia, sympathia renovada:

— Eu tambem m’aborreço na Torre...

— Mas tens outro genio!... E eu realmente sou um elegiaco.

Correu, com um esforço, o fecho perro da porta envidraçada. E limpando os dedos ao lenço perfumado:

— Eu creio que Corinde, agora, só me encantava com grandes cerros escalvados, grandes rochedos agrestes... Ás vezes, cá dentro d’alma, necessito o ermo de S. Bruno...

Gonçalo sorria d’aquelle appetite ascetico, murmurado com preciosidade, atravez da bigodeira torcida a ferro, resplandecente de brilhantina. E no terraço, junto á balaustrada de pedra enramada d’hera, galhofou, louvando o areado alinho, o relusente viço do jardim:

— Com effeito, para um discipulo de S. Bruno, que escandalo, todo este asseio! Mas para um peccador como eu, que delicia!... O jardim da Torre anda um chavascal.