A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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O Villico saudou — recolheu pela poterna abobadada da torre albarran, murmurando para os dous accostados:

— O Bastardo vem a tratar o resgate do Snr. Lourenço Ramires...

Ambos rosnaram:

— Feio feito.

Mas, quando Ordonho offegante se apressava para a Alcaçova, encontrou no pateo Tructezindo Ramires — que, na irada impaciencia d’aquellas delongas do Bastardo, descera, todo armado. Sobre o comprido brial de lã verde-negra, que recobria a vestidura de malha, as suas barbas rebrilhavam, mais brancas, atadas n’um grosso nó como a cauda d’um corcel. Do cinturão tauxeado de prata pendia a um lado o punhal recurvo, a bozina de marfim — ao outro uma espada gôda, de folha larga, com alto punho dourado onde scintillava uma pedra rara trazida outr’ora da Palestina por Gutierres Ramires, o d’Ultramar. Um sergente conduzia sobre uma almofada de couro os seus guantes, o seu capello redondo, de vizeira gradada, como usára El-Rei D. Sancho: outro carregava o immenso broquel, da fórma d’um coração, revestido de couro escarlate, com o Açôr negro rudemente pintado, esgalhando as garras furiosas. E o Alferes, Affonso Gomes, seguia com o guião enrolado na funda de lona.