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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Depois foi uma bruta abalada. Os quatro besteiros sacudiram para o chão as andas, o corpo morto enrodilhado nos ramos — e atiraram pelo terreiro, como lebres em clareira, atraz do monge que se agachava agarrado ás crinas da mula. N’uma curta desfilada o Bastardo, os seis cavalleiros, gritando o alarme, mergulharam no arraial que estacára ao Cruzeiro. Um tumulto remoinhou em torno ao devoto pilar. E em rodilhado tropel a mesnada desenfreou para a Ribeira, varou a velha ponte, logo ennublada em pó e sumida para além do arvoredo, n’um fugidio coriscar de capellinas e de lanças apinhadas.

Uma alta grita, no emtanto, atroára as muralhas de Santa Ireneia! Virotes, flechas, balas de fundas assobiavam, despedidas no mesmo furioso repente, sobre o bando de Bayão: — mas apenas um dos besteiros que carregára as andas tombou, estrebuchando, com uma flecha na ilharga. Pela cancella das barreiras já Cavalleiros e donzeis d’armas se empurravam desesperadamente para recolher o corpo de Lourenço Ramires. E Garcia Viegas, os outros parentes, galgaram ao eirado da barbacan, d’onde Tructesindo se não arredára, rigido e mudo, fitando as andas e seu filho estatelado com ellas sobre o terreiro da sua Honra. Quando, ao rumor, elle pesadamente se voltou — todos emmudeceram ante a serenidade da sua face,