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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

aterradamente se benziam. Um cavalleiro de Briteiros, temendo por aquella alma desamparada e sem confissão, correra á capella da Alcaçova procurar Frei Muncio. Outros, rodeando toda a muralha até ao Baluarte-Velho, gritavam, com desesperados acenos, para o torreão escalavrado, onde, como um môcho, habitava o Physico. Mas o certeiro punhal do Bastardo acabára o denodado Lourenço, flor e regra de cavalleiros por toda a terra de Riba-Cavado... E que lastimoso e desfeito — com suja terra na face, a garganta empastada de sangue negro, as malhas do saio rotas sobre os hombros e embebidas nas carnes retalhadas, e nua, sem grêva, toda inchada e rôxa, a perna ferida em Canta-Pedra, onde mais sangue e lama se empastavam!

Tructesindo descia, lento e rigido. E as seccas brazas dos seus olhos mais se incendiam, em quanto, atravez do dorido silencio, se acercava do corpo de seu filho. Deante do banco ajoelhou, agarrou a arrefecida mão que pendia; e, junto á face manchada de sangue e terra, segredou, de alma para alma, n’um abafado murmurio, que não era de despedida mas d’alguma suprema promessa, e que findou n’um beijo demorado sobre a testa, onde uma restea de sol rebrilhou, dardejada d’entre as folhas da aveleira. Depois erguido n’um arrebate, atirando o braço como para n’elle recolher toda a força da sua raça, gritou: