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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

concebidas, como concebera as de Tructesindo, em concordancia com a rijeza e explendor dos seus feitos.

Vagarosas, mais vivas, ellas cresciam d’entre a sombra que latejava espessa e como povoada. E agora os corpos emergiam tambem, robustissimos corpos cobertos de saios de malha ferrugenta, apertados por arnezes d’aço lampejante, embuçados em fuscos mantos de revoltas prégas, cingidos por faustosos gibões de brocado onde scintillavam as pedrarias de collares e cintos; — e armados todos, com as armas todas da Historia, desde e clava gôda de raiz de roble errissada de puas, até ao espadim de sarau enlaçarotado de seda e ouro.

Sem temor, erguido sobre o travesseiro, Gonçalo não duvidava da realidade maravilhosa! Sim! eram os seus avós Ramires, os seus formidaveis avós historicos, que, das suas tumbas dispersas corriam, se juntavam na velha casa de Santa Ireneia nove vezes secular — e formavam em torno do seu leito, do leito em que elle nascera, como a Assembleia magestosa da sua raça resurgida. E até mesmo reconhecia alguns dos mais esforçados, que agora, com o repassar constante do Poemeto do tio Duarte e o Videirinha gemendo fielmente o seu «fado», lhe andavam sempre na imaginação...

Aquelle além, com o brial branco a que a cruz