A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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vermelha enchia o peitoral, era certamente Gutierres Ramires o d’Ultramar, como quando corria da sua tenda para a escalada de Jerusalem. No outro, tão velho e formoso, que estendia o braço, elle adivinhava Egas Ramires, negando acolhida no seu puro solar a El-Rei D. Fernando e á adultera Leonor! Esse, de crespa barba ruiva, que cantava sacudindo o pendão real de Castella, quem, senão Diogo Ramires, o Trovador, ainda na alegria da radiosa manhã d’Aljubarrota? Deante da incerta claridade do espelho tremiam as fôfas plumas escarlates do morrião de Paio Ramires, que s’armava para salvar S. Luiz Rei de França. Levemente balançado, como pelas ondas humildes d’um mar vencido, Ruy Ramires sorria ás naus inglezas que ante a prôa da sua Capitanea submissamente amainavam por Portugal. E, encostado ao poste do leito, Paulo Ramires, pagem do Guião d’El-Rey nos campos fataes de Alcacer, sem elmo, rota a couraça, inclinava para elle a sua face de donzel, com a doçura grave d’um avó enternecido...

Então, por aquella ternura attenta do mais poetico dos Ramires, Gonçalo sentio que a sua Ascendencia toda o amava — e da escuridão das tumbas dispersas accudira para o velar e soccorrer na sua fraqueza. Com um longo gemido, arrojando a roupa, desafogou, dolorosamente contou aos seus avós resurgidos a arrenegada Sorte que o combatia e que