A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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n’esse muro que o separava da fortuna só descobria um buraquinho, bem apertado mas serviçal — os Annaes de Litteratura e d’Historia, com a sua collaboração de Professores, de Politicos, até d’um Ministro, até de um Almirante, o Guerreiro Araujo, esse tocante massador. Appareceria pois nos Annaes com a sua Torre, revelando imaginação e um saber rico. Depois, trepando da Invenção para o terreno mais respeitavel da Erudição, daria um estudo (que até lhe lembrára no comboio, ao voltar de Lisboa!) sobre as «Origens Visigothicas do Direito Publico em Portugal...» Oh, nada conhecia, é certo, d’essas Origens, d’esses Visigodos. Mas, com a bella historia da Administração Publica em Portugalque lhe emprestára o Castanheiro, comporia corrediamente um resumo elegante... Depois, saltando da Erudição ás Sciencias Sociaes e Pedagogicas — por que não amassaria uma boa «Reforma do Ensino Juridico em Portugal» em dous artigos massudos, de Homem d’Estado?... Assim avançava, bem chegado aos Regeneradores, construindo e cinzelando o seu pedestal litterario, até que os Regeneradores voltassem ao Ministerio, e no muro se escancarasse a desejada porta triumphal. — E no meio do quarto, em ceroulas, com as mãos nas ilhargas, Gonçalo Mendes Ramires concluio pela necessidade de apressar a sua Novella.

— Mas, quando acabarei eu essa Torre? assim emperrado, sem veia, com o figado combalido?...