A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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pallida agora e emmudecida pelo espanto, retendo grandes lagrimas que rebrilhavam. E Gonçalo commovido, com gravidade, com ternura:

— Mas tu, Gracinha, sabes o que são terras pequenas. Sobre tudo Oliveira! Precisas muito cuidado, muita reserva... Ai de mim! De mim vem a culpa. Reatei relações que nunca se deviam reatar... Bem me tenho arrependido! E acredita! por causa d’essa situação tão falsa e tão perigosa, que eu creei, levianamente, por ambição tola, passei aqui na Torre dias amargurados... Até nem m’atrevia voltar a Oliveira. Hoje, não sei porquê, depois d’esta aventura, parece que tudo se esbateu, s’afundou para uma grande sombra... Emfim já não me arde tão em braza no coração... Por isso desabafo assim, serenamente.

Ella desatou n’um solto, doloroso choro em que a sua fraca alma se desfazia. Com redobrada ternura Gonçalo abraçou os pobres hombros vergados que os soluços espedaçavam. E foi com ella toda refugiada no seu peito, que ainda a aconselhou, docemente:

— Gracinha, o passado morreu, e todos precisamos, para honra de todos, que continue morto. Pelo menos que por fóra, em cada gesto teu, pareça bem morto! Sou eu que t’o peço, pelo nosso nome!...

D’entre os braços do irmão, ella gemeu com infinita humildade: