448
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

— Mas elle até foi embora!... Nem quiz estar mais em Oliveira!

Gonçalo acariciou a acabrunhada cabeça que de novo se escondera contra o seu peito, contra elle se apertava, como procurando a fresca misericordiosa que dentro sentia brotar:

— Bem sei. E isso me mostra que tens sido forte... Mas precisas muita reserva, muita vigilancia, Gracinha!... E agora socega. Não fallemos mais, nunca mais, n’este incidente... Por que foi apenas um incidente. E que eu provoquei, ai de mim, por leviandade, por illusão. Passou, está esquecido! Socega, descança. E quando desceres traze os olhos bem seccos.

Lentamente a desprendera dos braços, onde ella se arraigava como ao abrigo mais certo e á consolação mais desejada. E sahia, engasgado pela emoção, recalcando tambem as lagrimas... Um gemido timido, supplicante, ainda o reteve.

— Gonçalo! mas tu pensas...

Elle voltou, de novo a abraçou, a beijou na testa lentamente:

— Eu penso que tu, agora bem avisada, bem aconselhada, vaes mostrar muita dignidade, muita firmeza.

Rapidamente abalou, cerrou a porta. E na escada estreita, escassamente allumiada por uma