A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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— Pois que mais quereis, meu Leonel? acudio alegremente o Sabedor, resplandecendo. Morte é esta para se contar em livros! E não tereis este inverno serão á lareira, por todos os solares de Minho a Douro, em que não volte a historia d’este Pego, e d’este feito! Olhae nosso primo Tructesindo Ramires! Formosos tratos presenceou de certo em tão longo lidar d’armas!... E como goza! tão attento! tão maravilhado!

Na encosta do outeiro, junto do seu balsão, que o Alferes cravára entre duas pedras, e como elle tão quêdo, o velho Ramires não despregava os olhos do corpo do Bastardo, com deleite bravio, n’um fulgor sombrio. Nunca elle esperára vingança tão magnifica! O homem que atára seu filho com cordas, o arrastára n’umas andas, o retalhára a punhal deante das barbacans da sua Honra — agora, vilmente nú, amarrado tambem como cerdo, pendurado d’um pilar, emergido n’uma agoa suja, e chupado por sanguesugas, deante de duas mesnadas, das melhores d’Hespanha, que miravam, que mofavam! Aquelle sangue, o sangue da raça detestada, não o bebia a terra revolta n’uma tarde de batalha, escorrendo de ferida honrada, atravez de rija armadura — mas, gota a gota, escuramente e mollemente se sumia, sorvido por nojentas bichas, que surdiam famintas do lodo e no lodo recahiam fartas, para sobre o lodo bolsar