A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Por fim em Maio a sessão das Camaras terminou — essa sessão que tanto interessára Gracinha, anciosa «que elles accabassem de discutir e tivessem férias.» E quasi immediatamente ella em Santa Ireneia, Gonçalo em Coimbra, souberam pelos jornaes que «o talentoso deputado André Cavalleiro partira para Italia e França n’uma longa viagem de recreio e d’estudo.» E nem uma carta á sua escolhida, quasi sua noiva!... Era um ultraje, um bruto ultraje, que outr’ora, no seculo XII, lançaria todos os Ramires, com homens de cavallo e peonagem, sobre o solar dos Cavalleiros, para deixar cada trave denegrida pela chamma, cada servo pendurado d’uma corda de canave. Agora Vicente Ramires, apagado e mortal, murmurou simplesmente: «Que traste!» Elle em Coimbra, rugindo, jurou esbofetear um dia o infame! A boa Miss Rhodes, para se consolar, desembrulhou a sua velha harpa, encheu Santa Ireneia de magoados harpejos. E tudo findou nas lagrimas que Gracinha, durante semanas, tão desconsolada da vida que nem se penteava, escondeu sob as olaias do Mirante.

E, ainda depois d’esses annos, a esta lembrança das lagrimas da irmã, um rancor invadiu Gonçalo, tão redivivo que atirou para o lado, para sobre as sebes da valla, uma bengallada, como se fossem ás costas do Cavalleiro! — Caminhavam então junto á