cisco, o Apelles português, os que provavelmente executaram pinturas da Infanta ao natural foram: Antonio Moro (1551), Affonso Sanches Coelho (1551-1554), Hans van der Straten (1556), Christoph von Utrecth (1557)[1]
Quantas illuminuras, medalhas, chapas de cobre, taboas grandes e telas d’estes mestres, e de outros de menor fama, não seriam enviadas á mãe que se consumia ao longe em amargas saudades durante sete lustros (1523-1558)! Quantas seriam remettidas aos soberanos que requestavam a mão da Infanta! Ou haveremos de acreditar que nem sequer desejavam examinar as feições nobres e delicadas da desposada, os sete noivos platonicos e longínquos que pouco a pouco surgiram no seu horizonte? Quantas ficariam além d’isso no reino a adornar os paços regios, e a fallar aos posteros das obras pias que instituiu!
No estrangeiro (na França, Hespanha e Áustria) perderam-se provavelmente varios d’esses retratos, por incêndios ou estragos do tempo. Alguns lá estarão ainda em palacios e museus, escondidos ou não identificados.
O unico de que por ora ha noticia, é um que em Madrid faz parte do Museu do Prado, não documentado, mas com attribuição tradicional á Infanta, a qual creio firmada em boas razões. E’ o que reproduzo segundo uma bella photographia, tirada directamente sobre o original [2]. D’elle fallarei depois de ter passado em revista os restantes.
Os de Lisboa são tres. Um conserva-se num retábulo da Egreja conventual da Luz. [3]
O facto de a capella-mór d’esse importante edificio ser fundação de D. Maria e destinada para seu jazigo, suscita naturalmente a esperança de o retábulo ser doação e representar fielmente as suas feições. Mas a suspeita é errónea. A construcção foi acabada depois do seu fallecimento. Sepultada provisoriamente no Capitulo da Madre de Deus, junto á Rainha D. Leonor, só ao cabo de quasi vinte annos, foi trasladada para a sua modesta morada no pavimento da Luz. [4]
O quadro que a mostra em idade juvenil não tem caracter de authentidade. Obra do seculo XVIII é, no caso melhor, copia de um original antigo, lá de 1540 e tantos, talvez de Antonio ou Francisco de Hollanda.
Outro, diverso mas muito semelhante, a ponto de devermos considerar um dos dois como repetição do outro, pertencia em principios do seculo ao Real Mosteiro da Encarnação, mais uma das muitas casas santas que a Infanta mandou construir. [5] Sobre ella foi feita uma Estampa [6] que, figurando na collecção iconographica de8
- ↑ A respeito dos pintores citados, importa recorrer á obra de Raczynski, Les Arts en Portugal, e aos Dialogos da Pintura, de Francisco de Hollanda, commentados por Joaquim de Vasconcellos, na primorosa edição de Vienna de Austria, 1899 (p. LIII s.) Cf. a nossa Nota 29.
- ↑ A photographia é de Laurent: a reproducção é das officinas do Commercio do Porto.
- ↑ O altar que o retabulo encima é hoje do S. Sacramento. Está no cruzeiro, do lado do Evangelho. Uma imagem de N. S. do Cabo, mencionada por Gabriel Pereira num artigo inserto na Revista Archeologica IV 186, só esteve temporariamente na Egreja da Luz.
- ↑ No paragrapho segundo do seu Testamento, a Infanta havia ordenado o seguinte: «Mando que mi cuerpo sea llevado a la Capilla que aora hago en el Monasterio de N. S. da Luz» e no Codicillo: «y la Capilla mayor de N. S. de la Luz, que aora labro, si no quedare acabada, se acabará luego, conforme a la traça que está echa.» A capella-mór, principiada em sua vida, estava pronta em 1585. Mas os testamenteiros, pouco zelosos, não queriam saber de pressas. Só a 30 de junho de 1597. pouco antes de se finar. Felipe II, seu sobrinho e ex-noivo, mandou realizar a trasladação. ― Parece-me significativo que Frei Miguel Pacheco, não conhecesse o quadro da Egreja da Luz. Tudo quanto refere da execução do testamento (cap. XVIII), cujos encargos ao cabo de meio seculo ainda não se haviam cumprido, sendo encarregado d'elles o proprio auctor da Vida, leva-me a pôr em duvida que alguem se lembrasse logo a principio de dar ao seu retrato o logar de honra que lhe competia.
- ↑ A construcção d'este convento para Commendadeiras de S. Bento de Aviz, tambem não se concluiu, e talvez nem mesmo se começasse, em vida da Infanta. Creio até que foi principiado depois de 1620. ― No § 15 do Testamento ella dizia: «Mando que se haga un Monasterio de Monjas, de la Orden de S. Benito en el sitio que al General y Padres de S. Benito... pareciere bien... La invocacion desta casa será N. S. de la Encarnacion...»
- ↑ Semelhante, quanto à physiognomia, bem se vê.