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Senhora com o Menino, sob cujo manto se abriga de um lado o Papa Julio III (1550-1551) e a familia de D. João m: o rei, a rainha, D. Sebastião, sua mãe D. Joanna, e as irmãs del Rei D. Isabel e D. Maria, com os respectivos nomes. Do outro lado estão uns frades trinitarios, em oração. Pertence á Casa Pia de Lisboa. O retrato da Infanta D. Maria concorda, perfeitamente, com o de Madrid». Não o vi ainda. Estranho todavia ver figurar num quadro, pintado entre 1550 e 1551, ao lado de pessoas vivas, uma filha de D. Manuel, que sahindo de Portugal em 1526, morrera em 1538. E D. Sebastião? Como se vê, a questão dos retratos exige novos estudos in loco.

48 A descripção de Madrazo diz: «Está en pie: lleva trage negro, de cuello alto y una toca o velete de cujas puntas unidas al puño pende un joyel que tiene asido con la mano derecha. — Mas de media figura; tamaño natural. Decoraba el antigo Alcazar y Palacio de Madrid cuando occurrió el incendio de 1734. — F. L. (i. é Fotografia Laurent) Alto 1,07; ancho 0,83. (1873).

49 Prado N.o 1485 (ant. 124): Laurent 412. Da Collecção de Felipe II no Alcaçar de Madrid. Vid. Raczynski, Lettres 255. E' interessante comparar o luxuoso trage com a descripção, dada' por Jorge Ferreira de Vasconcellos, na obra citada na Nota 56.

50 Prado 1486 (ant. 1258); Laurent 213. Copia de Pantoja, mas sobre um original que parece ser de Moro (1554); classificado outr'ora como Infanta de Portugal. Da Collecção de Felipe II no Alcaçar de Madrid.

51 Prado 1488 (ant. 1792). Da Collecção de Felipe III no Palacio de Valladolid.

52 O retrato de D. Leonor é reproducção de uma formosa heliogravura, publicada numa revista alleman, de arte. (Zeitschrift für bildende Kunst XXI 322). O original, attribuido a François Clonet, mas tambem a Bernhard van Orley, pertence á collecção Minutoli (Liegnitz, na Silesia). Virada levemente para a esquerda, D. Leonor segura nas mãos uma carta sobrescritada A la cristianisima y mui golirosa (sic) siñora la Reyna mi siñora (sic). Cabello castanho, com fita de perolas e firmal; collar de pedraria no collo descoberto; corpo de bronze esverdeado; mangas de purpura com fios de prata, golpeadas de branco e com debrum de pelles. Fundo verde. E' obra de arte de alto valor. O busto parece de pessoa baixa. Quanto á physiognomia, repito que os beiços denunciam claramente a casa de Austria — muito mais do que nas effigies da filha. Uma certa contracção da testa ou depressão nas fontes, que parece indicar concentração dolorosa, é commum ao retrato de D. Leonor e ao de D. Maria no convento da Encarnação.

53 O retrato condiz com as descripções de D. Leonor, feitas por embaixadores estrangeiros. Um que D. Manoel havia enviado a Castella para contratar o seu terceiro casamento, formulou a sua impressão nas palavras; «nom he muy fermosa, nem lhe podem chamar feia; tem boa graça e bom despejo... nom tem bons dentes e he pequena de corpo». Corpo Chronologico I, Maço 21 N.° 26, apud. Villa Franca p. 276. Outro, de Veneza, opinava: «Non è brutta nè bella. A me pare sia molto buona. Non ha per alcun modo di quelle grandezze espane, ma è vera fiammenga.» — No Retrato da Misericordia de Lisboa parece alta e gentil. Creio que não foi feito in loco et tempore.

54 Miguel Bonello, mais conhecido como Cardeal Alexandrino, enviado do papa Pio V, cujo sobrinho era.

55 A descripção da viagem do cardeal, escrita pelo secretario Venturino, foi publicada por Herculano no Panorama, vol. v. (Opusculos VI p. 90).

56 Jorge Ferreira de Vasconcellos na Segunda Tavola Redonda cap. 47. A descripção do vestuario da Infanta é extensa e complicada; muito mais, porém, a das vestimentas da Rainha que só em anneis ostentava dez, de rubins e esmeraldas.

57 Manuel da Costa serviu-se da mesma figura rhetorica ao descrever o lucto da Rainha D. Catharina, no funeral de seu esposo. (Op. cit. p. 459). Ambos se lembraram de um famigerado quadro grego de Timante, imitado freqüentes vezes, p. ex. num fresco de certa casa de Pompeja, reproduzido em diversos Manuaes de arte e archeologia.

58 Panegyrico § 61.

59 Epistola ad D. Emmanuelis P. F. Invicti Filiam D. Joannes III Invicti Sororem Mariam principem eruditissimam. E' uma das producções em que a Infanta é equiparada ás deusas da mythologia grega, em especial á da sabedoria: Pallada crediderim — incessu dea maxima certe credi digna fuit-namque dearum esse aliquam dubitare nefas. Resende e os seus discipulos, muito cesaristas, divinisavam toda a familia reinante.



60 D. Leonor nascera em 1498.

61 E' erro muito repetido chamar filha posthuma á Infanta D. Maria, erro que como tantos outros provém da inaudita leviandade do aliás benemerito auctor do Epitome de Historia Portuguesa. — Vide Rimas de Camões, ed. Faria e Sousa, vol. I p. 164.

62 O quadro da Misericordia de Lisboa, representativo do casamento de D. Leonor com D. Manoel, a que já me referi, acha-se reproduzido na Arte Portuguesa (p. 110), acompanhado de um artigo de Gabriel Pereira.

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