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torturada. Eis o que diz: «assi para descarga de mi alma como para disponer de los bienes que el Señor me dio en cosas de su servicio, porque ya que biviendo en esta vida con ellos no le servi como deviera, por lo menos despues de mi muerte se empleen y dispendan todos en su servicio.» Testamento § 1.

88 São desoladoramente significativas as palavras com que a Infanta pede aos ultimos sobreviventes da dynastia que teniendo respeto al grande provecho que a la corona destos reynos recrecio de yo nunca pretender otro modo de pagamento y satisfacion del patrimonio que el Rey mi padre me dexo que la que tuve», tomassem a peito obrigar os testamenteiros a cumprir inteiramente com muita diligencia as suas disposições, perguntando-lhe muitas vezes se o faziam, e mandando saber em segredo, se com efeito o executavam. Mas D. Sebastião morreu ao cabo de dez meses. D. Catharina havia-o precedido. D. Henrique lhe seguiu de perto. E depois...

89 A Infanta residiu primeiro modestamente na Alcaçova Velha; em seguida no campo de S. Clara; e finalmente com ostentação perto de Santos o Novo, no bairro aristocratico de Xabregas. (Pacheco f. 126). No tempo provavel dos Serões (1538 ou 1540 até 1555), o seu domicilio era no segundo dos paços citados.

90 Já sabemos que, obrigados por contrato a entregarem-lhe a sua legitima, quatro annos depois do fallecimento de D. Manoel, ou segundo outros aos dezaseis, os reinantes não haviam cumprido, e nunca cumpriram esse dever, sob varios pretextos, entre os quaes avultam o seu estado de filha adoptiva, a inconveniencia de a deixar sahir do paço, emquanto não estivesse casada, as duvidas àcerca da importancia da somma devida... e a falta de dinheiro.

91 Nos poemas e dramas, nas novellas, e nos romances historicos, dedicados a Camões, um logar proeminente é em geral concedido à Infanta. Sirva de exemplo, entre muitos, o drama de Cypriano Jardim, publicado por occasião do centenario.

92 Alguns costumes, quer delicados, quer primitivos, da corte portuguesa, como por ex. o de as damas não tomarem parte em banquetes, ou ainda o de não se sentarem em cadeiras altas, mas antes rente ao chão, em cadeiras e estrados baixos, são erroneamente considerados por alguns auctores como outros tantos indicios de reacção austera contra o esplendoroso mundanismo do Renascimento italiano.

93 Nem mesmo sabemos, ao certo, qual era a lingua materna de D. Maria. Filha de uma infanta castelhana, entregue aos cuidados de outra castelhana, que a confiou a aios da mesma naturalidade (D. Francisco de Guzman e sua esposa), é quasi certo que fallava castelhano muito cedo. Mas, portuguesa de nação, servia-se sem duvida, diariamente, tambem da lingua patria. Pacheco, que redigiu a sua obra em castelhano, não só allega, naturalmente, todos os seus ditos nesse idioma, mas mesmo o testamento, sem indicar, se o traduziu. Uma carta apenas está redigida em português. Por um acaso singular, essa é dirigida ao Imperador Carlos v. Acho estranhavel este procedimento, se realmente o castelhano lhe era absolutamente familiar.

94 O primeiro que a metteu na lista dos escritores portugueses foi Faria e Sousa. Sem provas, bem se vê. Nicolas Antonio seguiu o exemplo. E outros o repetiram.

95 Vejam o § 19 e 24 do Panegyrico cujas edições enunerei na Nota 10.

96 A' vista do documento, pelo qual o monarca concedeu à Infanta o senhorio de Viseu (e o titulo de duqueza?), deve ser facil apurar a data do Panegyrico, pois foi em celebração d'este acontecimento que João de Barros levantou a voz, conforme já indiquei na Nota 10. No admiravel Catalogo Chronologico de todos os Titulos que tem havido em Portugal até à occupação dos Filippes, o qual forma um avultado Appendice do Livro Segundo dos Brasões da Sala de Cintra de Anselmo Braamcamp Freire (Lisboa 1901) não encontro verba alguma relativa a esta nomeação.

97 A Ropica pneuma, um Colloquio erudito entre o Tempo e o Intendimento, a Vontade e a Razão, escripto em 1531, nada contém contra o dogma, embora fosse prohibido nos Indices.

98 Segundo elle, D. João III foi um maravilhoso reformador da religião christan! Panegyrico §18. Cf. § 26 e 33.

99 e 100 Ecloga IV, 6.

101 O leitor acha-as a p. 23 d'este estudo.

102 In humanitatis et eruditionis nec non virtutum antistitem.

103 Pacheco f. 132. Não consegui ver o original latino, impresso em Coimbra, no anno 1550. E' uma carta-prologo que acompanha o tratado do Jubileu: Commentarium De Anno Jubilaco et Indulgentiis omnibus.

104 De Rebus Emanuelis. P. IV, Livro XII.

105 Te totam summis labiis ita musis tradidisti ut eas non transeunter aut carptim ut pleræque solent libaveris sed eas ipsas penitus imbiberis.

106 Antonio de Castro, no Prologo que acompanha a edição das Obras Latinas de Cataldo Siculo, por elle promovida. Vid. Hist. Gen., Provas VI, 391.

107 Hispania Chronica, cap. IX, em Schott, Hispania Illustrata, vol. I.

107b Na livraria da Rainha D. Catharina havia uma grammatica portuguesa, manuscripta, totalmente desconhecida (Principios da lingua portuguesa), uma grammatica latina, tambem inedita

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