A este tempo uma sombra escura passou por elles e estacou.
—Ermelinda—disse logo a voz esganiçada e colerica, que saiu d’aquelle vulto.
Ermelinda estremeceu ao ouvil-a.
Era a mulher do Zé P’reira que voltava das suas devoções e ficára surprehendida com o espectáculo que vira. A assustadiça castidade d’aquella matrona toda se alvoroçou com a tocante despedida das duas creanças.
Ermelinda approximou-se, a tremer, da madrinha, que rudemente a agarrou pelo braço e a levou comsigo.
Angelo esteve quasi resolvido a ir tirar das mãos d’aquella harpía a innocente victima; mas a chegada de Herodes estorvou-o.
A sr.^a Catharina do Nascimento de S. João Baptista ia dizendo, ao levar comsigo a afilhada:
—Que terão ainda de vêr meus olhos, meu Divino Pae do Céo? Que mundo este de abominação, meu doce Jesus! Ó Virgem das Dores, isto é para se vêr e não se crer! Uma creanca, uma creanca de dois dias, se pode dizer, e já assim com a alma pérdida! Ó meu Jesus crucificado!...
—Minha madrinha—dizia Ermelinda, chorando.
—Anda, anda, anda, minha amiga, que já os demonios saltam e riem de contentes. Teu pae é que tem a culpa. Isto são lá modos? trazer-te por entremezes, que são artes do demonio, e arredar-te da igreja, que é a casa do Senhor! É a missa dos domingos, e acabou-se. Os resultados são estes!... Ai, filha, que muita penitencia te é já precisa para salvares a alma!
—Minha madrinha, minha madrinha, por as almas não me diga isso—exclamava Ermelinda, aterrada.
—Os très inimigos da alma te farão guerra, creatura, assanhados como cães raivosos... Eu previa isto... É o lucro de andar por essas casas de Sa-