que n’aquelle dia estavam nas suas mãos e dos seus pares os destinos do paiz, abririam os olhos de espantados, ou sorririam com a desconfiança propria dos ignorantes.
Innocente povo!
Querem-te assim os ambiciosos, a quem serves de cómmodo degrau.
Quando disseram ao sr. Joãozinho que já tinha passado a sua vez de votar, o homem rompeu pela igreja dentro, berrando, bracejando, ameaçando céos e terra, sem attender a quantos lhe clamavam que tinha de se proceder a nova chamada, e que portanto socegasse.
O Cosme seguia-o, prompto a ser executor de suas justiças.
Custou a serenar o morgado, e não o fez senão depois de duas pragas contra as pessoas dos senhores da mesa, pragas que razões politicas fizeram engulir ao brazileiro, sem nem sequer lhe tirarem dos labios o sorriso com que saudára a vinda do morgado.
Caindo em si, o sr. Joãozinho deu ordem á sua gente para que entrasse para a igreja, e ahi a enfileirou a um dos lados d’ella, promptos á primeira voz.
A chamada proseguia, e a votação não ia já muito favoravel ao conselheiro, a julgar pelos indicios, que não escapam aos olhos amestrados dos mirones.
O brazileiro exultava comsigo mesmo, principalmente[1] quando, por sobre as cabeças dos que se agrupavam em volta da urna, divisava as phalanges do morgado, compactas e decididas.
O conselheiro ainda tentou uma investida com o sr. Joãozinho, indo cumprimental-o affavelmente; este, porém, grunhiu-lhe um monosyllabo sêcco, e voltou-lhe as costas, envolvido n’uma nuvem de parciaes do brazileiro.
Era caso desesperado.
Passára já a votar a ultima freguezia, que era
- ↑ "principalte" no original, erro tipográfico.