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—­Ora, não era isso, tío. Eu perguntava, porque...

—­Socega, quando o véo estiver prompto, a laranjeira não nos faltará com ramos e flores.

—­Não, mano—­disse D. Victoria—­olhe que se não trata de vêr o que é que está dando nas laranjeiras, dentro em pouco não ha uma só na quinta. Que tambem para serem comidas as laranjas pelos criados... Porque quasi que são só para elles. Não que não faz ideia!...

E continuou com D. Dorothéa a narração dos abusos de que os criados eram culpados.

D’ahi a momentos foi o conselheiro o primeiro a falar.

—­Esta é galante!—­disse elle, examinando uns papeis e rindo.—­Ora ouça isto, Henrique. Aquí está um homem que deseja que eu lhe empregue nada menos do que sete sobrinhos que tem. Sete! É uma geração como a de Jacob; se estivessemos na côrte de Pharaó!...

—­Se se satisfizessem cada um com uma pasta?... Era um ministerio completo—­disse Henrique.

—­Oh! oh!—­disse o conselheiro, passados alguns momentos.—­Cá está o meu amigo Pertunhas, teimando com o logar de recebedor.

—­Pois o maroto ainda se atreve?

—­E que despeza de estylo que faz! É uma ode congratulatoria em prosa.

N’estas entremeadas conversas e diálogos curtos e interrompidos passou-se o tempo até a chegada do correio, successo que marca época n’uma manhã passada na aldeia.

N’aquelle dia sobretudo eram esperadas com ancia as cartas e os periodicos, que deviam trazer noticias do resultado das eleições dos differentes círculos do paiz.

O conselheiro já por très vezes consultára o relogio, extranhando que o correio se demorasse.