XVIII
PREFACIO.

Pois então que levem por uma vez d’este mundo em que habitamos todo esse inesgotavel thesouro de cousas bellas e agradaveis que encantam os nossos sentidos e as nossas almas!

Vamos, senhores naturalistas, façam uma grande bagagem de tudo que é brilhante, de tudo que é formoso e de tudo que é balsamico!

Carreguem com o sol, que é a côr; carreguem com as flores, que são o perfume; carreguem com as aves, que são a musica; carreguem com a mulher, que é o amor e a vida!

Vamos! Dispam de todo a natureza! Rasguem-lhe os vestidos! Furem-lhe os olhos! Arranquem-lhe os cabellos!

Vamos, senhores naturalistas, apaguem as estrellas! Mandem dar uma mão de pixe sobre o azul do céo! Corram a pontapés as rosas e as borboletas!

Vamos! levem tudo isso, que é a poesia! Levem tudo, e que não fique senão a podridão e o mal!

Levem as boninas dos campos, a sombra mysteriosa dos velhos arvoredos, o doce trapejar das aguas cantantes e batidas! Levem as melancolias do luar, o