o cura. Se ele não tem para onde ir, como quer a tia Salomé que o ponhamos fora de casa? Seria matá-lo de penúria!. . .

A criada abaixou a cabeça e disse, de si para si, a endireitar o seu avental:— E mesmo um coração de anjo! . . .

— Ouça, minha boa Salomé. . . acrescentou Ângelo, pousando-lhe a mão no ombro; você às vezes finge-se má... aposto que, se eu expulsasse daqui o Robino, seu coração, minha irmã, sofria com isso mais CO que o dele próprio. . .

— Não digo o contrário, sr. vigário, mas. . .

— Por que então há de fingir-se aquilo que não é?... por que há de dizer o que não sente?... por que fazer-se má, quando os seus sentimentos são humanos e compassivos?. . . Saiba, pois, que tanto se ofende a Deus com a falsa maldade, como com a verdadeira. Com a falsa ainda mais se ofende, porque a outra tem a sua absolvição na fatalidade dos instintos, ao passo que esta é toda produto do raciocínio, e como tal deve ser punida. Se Robino é um miserável, é um perdido, por isso mesmo devemos socorrê-lo; se não dispõe de ninguém por si, devo eu estar ao lado dele e, se eu também o abandonasse, ainda ficaria Deus, que não abandona nunca os desgraçados.