nos gestos e naturalidade galante nos soluços e nos gemidos de pecador.
Essa mistura do sagrado áspero com o profano macio, do prazer aveludado com a devoção capitosa, produziu as célebres festas híbridas, que então se organizavam em uma das salas das Tulherias durante a quaresma, e as quais deram gamenhamente, o nome de Concertos espirituais.
Luís XV gostava de presenciá-las, sentado a um canto entre algumas formosas mulheres, e bebendo vinho da Síria, que era o seu vinho predileto. Pestanejava e sorria para todos os lados. Liam-se versos ternos e religiosos, cantavam-se o Miserere, o De profundis, o Stabat, e outras cousas tristes, mas tudo com muita graça e requebros faceiros.
Era o amor temperado com óleo cheiroso de Santa Luzia.
Havia sempre para estrear, no púlpito desses concertos, um ou mais jovens eclesiásticos, sempre moços bonitos, aos quais, durante o sermão, serviam água rosada e licor de violetas. E o que deles se exigia, era apenas voz doce, olhar meigo, dentes bem claros, lábios vermelhos, rendas alvíssimas na camisa, e mãos brancas de unhas limpas. Às vezes criava-se uma bela reputação e fazia-se uma bonita carreira, só com uma palavra feliz ou com um gemido suspirado com chiste em ocasião oportuna. O caso era que as gentis devotas se impressionassem. E só se falava à