meia voz, só se namorava a meio sorriso e só se andava lentamente aos pulinhos, abafando os passos nos arminhosos tapetes a que Pompadour deu o seu nome.

Ângelo, coitado, nada conhecia disso nem por notícia sequer; como igualmente não conhecia o outro gênero de pregadores, não menos comum nesse tempo, o do pregador terrível, de pulso forte e cabeça dura, que ia para o púlpito de cacete escondido debaixo do capote, e cujos sermões eram por via de regra uma descarga política e uma tremenda descompostura, contra o partido dos Jansenistas ou contra o partido dos Molinistas, conforme a filiação do orador, e que, em geral, acabavam também por soluços e gemidos, mas estes agora bem sinceros e bem reais, e grossa pancadaria no átrio da igreja.

Até certa idade, Ângelo chegou a acreditar que o mundo se resumia no seu convento, e que a humanidade se compunha apenas daquela meia dúzia de frades, ingênuos e quase santos, que ele conhecia. Ozéas, com um cuidado enorme, um zelo de guarda do Paraíso, isolava-o dos seminaristas e dos empregados do seminário, e lhe não deixava cair nas mãos a mais inofensiva página de qualquer livro que não fosse religioso.

E, no entanto, Ângelo era dotado de um poderoso talento de assimilação e devorava sofregamente tudo, bom ou mau, que lhe davam para ler. As matérias religiosas que plantaram no fundo do seu espírito,