enlevo da prece, vagava naquele instante pelos infinitos páramos do céu.

Toda a sua fé, toda a sinceridade das suas crenças e toda a pureza do seu corpo e do seu espírito, vieram-lhe ao sembrante naquele momento de profundo êxtase.

Parecia um arcanjo em dulcíssimo idílio com a Divindade. Dir-se-ia que ele, de um instante para outro, ia desprender-se da terra e partir lentamente para Deus, como a própria suplica que lhe agitava as rosas da boca e se evaporava como um perfume.

Quando as suas primeiras palavras saíram-lhe do coração, num doce murmúrio de voz angélica, houve em todas aquelas pobres criaturas, estafadas pelo vício e pela libertinagem, uma inesperada comoção que lhes umedecia os olhos.

E ele, sempre arrebatado no vôo do seu enlevo religioso, continuava a falar, como se estivesse sonhando, cercado de uma nuvem de anjos.

A sua voz, de cristal e ouro, virgem e sonora, enchia o recinto, produzindo naquele extático e maravilhado auditório o efeito de uma estranha música desconhecida, que baixasse dos céus para acordar-lhe, no corrompido e morto coração, uma idéia generosa e consoladora.

Foi geral e profunda a comoção. As mulheres arfavam, sem despregar os olhos da encantadora figura de Ângelo. O rei deixara pender a