Este com um riso pungente, que lhe contraiu as feições já decompostas, achegou-se para receber a esmola. Apertando convulso a mão do velho, beijou-a com expressão de humildade e respeito.
Não se demorou porém, arrancando-se à comoção e afastou-se rápido. Sentiu o velho Duarte ao recolher a mão que ela ficara úmida do pranto do mendigo. Seus olhos cansados da velhice acompanharam o vulto coberto de andrajos; e já este havia desaparecido, que ainda eles estendiam pelo espaço a sua muda interrogação.
Quem havia no mundo ainda para derramar aquele pranto de ternura ao encontrá-lo a ele, pobre peregrino da vida que chegava só ao termo da romagem?
— Antônio de Caminha! murmuraram os frouxos lábios do velho.
Não se enganara Duarte de Morais. Era de feito Antônio de Caminha, quem ele entrevira mais com o coração do que com a vista já turva, entre a barba esquálida e as rugas precoces do rosto macilento do mendigo.
Que desgraças tinham abatido o gentil cavalheiro nos anos decorridos?
Partido do porto do Rio de Janeiro, Antônio