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Ás mulheres portuguêsas

— «Queria matá-lo, sinistramente, arremessando-o á linha a toda a velocidade do comboio, por uma noite escura e tragica, como quem alija demasiado pêso na lucta de um naufragio, como quem num esforço se alevanta e sacode dos hombros um fardo com que não póde...

E não era esta exactamente a verdade? Quem ensinou a essas mulheres de vinte annos, abandonadas á propria sorte, pontapeadas pela sociedade, enganadas pelos homens, servindo quem as despresa e maldiz, só toleradas porque são uteis — bestas de carga para criarem e servirem os filhos alheios — quem lhes ensinou a ser mães?

Quem lhes ensinou sequer a ser mulheres, na acepção nobre e alta da palavra, e não tão sómente a femea brutalisada e despresada pelo homem, quando o saciamento matou o desejo carnal?

Quem lhes disse que o fructo que de seus efémeros amôres lhes ficou nas entranhas é um ente crédor a todo o seu respeito — já não digo ao seu afecto, que se não póde obrigar — de