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CARA DE CORUJA

linda até não poder mais. Só reis e principes e princezas e fadas...

— Muito bem, disse dona Benta, mas tenho que escrever uma carta á mana Antonica, porisso não me façam muito barulho. Deixem-me em paz no meu canto.

— Sim, vóvó, mas a senhora tem de espiar um pedacinho da festa — um pedacinho só, sim? Pelo buraco da fechadura. Isso quando ouvir uma grande salva de palmas e um hymno de indios.

A pobre velha fez cara de quem não estava entendendo muito bem tamanha trapalhada. Narizinho teve de explicar tudo. As palmas e o hymno dos indios guerreiros, escripto especialmente pela Emilia, eram para saudar a chegada de Peter Pan, o famoso menino que nunca quiz crescer e que pela primeira vez os vinha visitar no sitio.

Dona Benta prometteu que espiaria.

Voltando á sala da festa, Narizinho gritou para o visconde:

— E' hora!

O pobre sabio, que estava cochilando em cima do binoculo, acordou, espiou a estrada e disse:

— Estou vendo uma poeirinha lá longe!...

— Poeirinha bem pequenininha ou grandinha? perguntou Emilia. Se é grandinha, então aposto que é Pé de Vento que vem vindo.

Narizinho franziu a testa.

— Não convidei Pé de Vento nenhum, Emilia, nem conheço tal personagem.

— Pois eu conheço, retorquiu a boneca. Estou escrevendo uma historinha onde ha o grande principe Pé de Vento, que é o maior levantador de poeira que existe. Uma vez, quando elle tinha justamente tres annos, tres mezes, tres dias e tres horas de idade...

— Feche a torneira, Emilia! Historias só de noite. Não vê que o primeiro convidado já vem vindo?