MONTEIRO LOBATO
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precisa dar as razões e não ir dizendo quero porque quero. Isso só rei é que faz.

— Mas eu tenho as minhas razões. Pantasma nada tem que vêr com phantasma. Pantasma é uma idéa que tenho na cabeça ha muito tempo, de um bicho que até agora ainda não existiu no mundo. Tem olhos nos pés, tem pés no nariz, tem nariz no umbigo, tem umbigo no calcanhar, tem calcanhar no cotovello, tem cotovellos nas costellas, tem costellas no...

— Chega, Emilia! berrou a menina tapando os ouvidos. Não precisa contar o bicho inteiro. Fica Pantasma, como você quer. Mas esse OPERA, que é?

— Não sei. Acho opera um nome bonito e porisso o escolhi. Se você faz muita questão, eu tiro o ER e fica o PANTASMA DA OPA. E' o mais que eu posso fazer.

Os dois meninos se entreolharam.

— Acho que ella está ficando louca, cochichou Pedrinho ao ouvido da menina.


IV — CHEGAM OS CONVIDADOS


Bum! Bum! Bum! Chegou afinal o grande dia. O terreiro estava enfeitado de bandeirolas e arcos de bambú. As cocadas já estavam promptas. A's sete e meia ia começar o espectaculo. Os dois meninos se sentaram á porta do circo para esperar os convidados. Dalli a pouco a porteira do terreiro ringiu e appareceu o doutor Caramujo, muito sério, de casca nova, carregando a sua maleta debaixo do braço. Contou que vinha muita gente do reino das Aguas Claras menos o principe Escamado.

— Porque não vem o principe? indagou Narizinho.

— Porque o principe não existe mais, explicou elle baixando os olhos.

— Como não existe mais? Que aconteceu? Fale!...

— Não sei o que aconteceu. Mas depois daquella viagem