MONTEIRO LOBATO
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Taes palavras fizeram Pedrinho bater na testa.

— Tive uma grande idéa, vovó! berrou elle. Levar a senhora lá!... Já sabemos o caminho e temos o burro falante para nos conduzir. Que acha?

A grande idéa tonteou dona Benta como se fosse uma forte paulada no craneo.

— Que desproposito, Pedrinho! Não sabe que sou uma velha de mais de setenta annos ? Que não diria o mundo quando soubesse dessa extravagancia ?

— O mundo não precisa saber de nada. A senhora vae incognita, como os reis quando querem se divertir. Deixe o negocio por minha conta, que sahirá tudo direitinho...

A idéa de conhecer pessoalmente o senhor de Lafontaine virou duma vez a cabeça da boa senhora. Tres dias passou a pensar naquillo, vae, não vae, sem animo de decidir-se. Pedrinho, porém, tanto insistiu que...

— Vou, menino, vou! disse ella afinal. Mas pelo amor de Deus não me atropele mais.

As creanças ficaram num delirio. Levarem sua querida vovó ao Paiz das Fabulas foi coisa que nem em sonhos lhes passára pela cabeça. Era o succo! dizia Pedrinho dando pinotes.

A semana se passou assim, em discussões e preparativos, tudo em segredo para que tia Nastacia não desconfiasse. Era preciso que nem a negra soubesse da "caduquice" de dona Benta.

Afinal chegou o grande dia.

— Nastacia, disse dona Benta sem coragem de olhar para os olhos della, vou fazer hoje um demorado passeio com as creanças. Se apparecer alguem, diga que estou na casa do compadre Theodureto.

Sahiram, a boa velha na frente com os netos, Emilia e o visconde atraz, este arcado ao peso da celebre canastrinha. Fingiram ir do lado da fazenda do tal compadre Theo-