300
O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

palavras tristes, a diabinha limitou-se a abrir a canastra para ver se o visconde não havia tirado alguma coisa!...

Depois teve uma idéa muito pratica. "Depennou" o cadaver, isto é, arrancou-lhe as pernas e os braços roidos pelos peixes e guardou o tronco na canastrinha, dizendo:

— Tia Nastacia é uma damnada. Com este tôco de visconde, aposto que faz um visconde novo, muito mais bonito.

Por fingimento, ou porque realmente sentisse a morte do visconde, o barão declarou que iria tomar luto no chapéu por tres mezes, visto que elles, barões e viscondes, são sempre parentes entre si — parentes em nobreza. Esse acto do senhor de Munkausen muito sensibilizou dona Benta, fazendo-a cochichar ao ouvido de Narizinho:

— Bem se diz que santo de casa não faz milagre! Nunca demos grande importancia ao visconde e, no entanto, veja, até luto por elle vae o senhor de Munkausen botar...

Nisto ouviram um tropel de cavallos. Era a caleça do barão que vinha chegando para levar dona Benta ao castello.


VI — O PINTÃO


Tomaram a carruagem e foram-se. Pouco antes de alcançarem o castello havia um desfiladeiro por entre montanhas de pedra. Alli a caleça parou de subito.

O senhor de Munkausen espichou a cabeça para fóra, afim de ver o que era.

— Uma enorme pedra redonda rolou da montanha, trancando a passagem, disse o cocheiro.

— Que bucha! exclamou o barão, apeando-se para estudar o caso.

— Pedra nada! gritou logo depois. Isto é apenas um ovo do passaro Roca, que rolou do ninho. Bem desconfiado andava eu que o ninho delle era aqui nesta montanha!...

Todos correram para ver e foi um abrir de boccas que não tinha fim. Nem por brincadeira haviam sonhado um