MONTEIRO LOBATO
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ovo daquelle tamanho, maior que duas pipas postas uma em cima da outra. A casca era tão dura que apezar do ovo ter rolado do alto da montanha, batendo em quanta pedra pontuda havia, não se quebrou. Trincara de leve, só.

— Que pena tia Nastacia não estar aqui! lamentou dona Benta. Ella é que havia de gostar de ver um ovo deste tamanho.

E agora? Precisavam passar, fosse como fosse. Rolar o ovo era impossivel, por estar entalado entre rochas. O unico meio seria despedaçal-o.

Assim resolveu o barão, mandando que o cocheiro fosse correndo ao castello buscar uma picareta.

— Uma não! Duas! Ou tres! gritou depois que o cocheiro partiu.

— Quatro! berrou Emilia. Eu tambem quero quebrar o ovo.

O cocheiro trouxe cinco.

Cada qual pegou na sua, e malhou na casca do ovo com quanta força tinha. De repente o barão gritou:

— Fujam, que vae escorrer clara e gemma de virar tudo em omelette!...

Todos fugiram para os barrancos, inclusive a pobre dona Benta, que teve de ser içada pelos meninos.

— Viver mais de setenta annos para acabar trepando em barrancos de medo de virar omelette! Isto nunca foi vida... lamentava-se ella.

Inutil a correria. O ovo partiu-se sem derramar clara nem gemma nenhuma, pela simples razão de não ter nada disso dentro. O que havia lá dentro era um formidavel pinto, que botou a cabeça para fóra, a piar uns pios agudissimos, de se ouvirem a dez legoas dalli.

O barão ficou apprehensivo. Aquelles berros poderiam chegar aos ouvidos do passaro Roca, que não devia andar muito longe — e se a gigantesca ave os pilhasse a mexer