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O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

com o seu ovo, certo que os devoraria a todos, como se fossem minhocas.

— Cordas! gritou elle afflicto. Corram ao castello e tragam quantas cordas puderem!...

Pedrinho e o cocheiro voaram ao castello atraz de cordas, voltando minutos depois com quantas havia.

— Temos que amarrar o bico deste horrendo pinto sem perda dum momento, senão o Roca surge por ahi e nos devora.

Não foi nada facil. O pintão se defendia como um tigre. Só mesmo a força herculea do senhor de Munkausen, ajudado pelo cocheiro, por Pedrinho, pela menina, por Emilia e até por dona Benta, poderia amarrar o bico do pinto Roca — e ainda assim tiveram de luctar meia hora! Afinal, amordaçaram-no.

— Conheceu, papudo? gritou Emilia de longe, quando viu o serviço feito.

De nada, porém, valeu tanto esforço. O passaro Roca tinha ouvido os berros do filhote e vinha pelos ares como um cyclone de pennas.

— Fujamos! gritou o senhor de Munkausen ao avistal-o. E botou-se...

Foi uma debandada geral. Voaram todos atraz do barão, como veados. Até a pobre dona Benta teve de esquecer os setenta annos, o rheumatismo e a pontada, para só pensar na fuga. Arregaçou a saia, botou a dentadura no bolso e virou veado tambem. Chegou ao castello mais morta que viva, pondo a alma pela bocca.

— Benza-me Deus! dizia. Isto nunca foi vida...

O barão e o menino subiram incontinenti á torre para espiar o passaro Roca por uma luneta. Viram-no pairar sobre o desfiladeiro e descer como uma flexa sobre o ovo. Ao dar com o filhote já nascido, ficou numa grande alegria.