MONTEIRO LOBATO
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Não desconfiou nem daquelle bico amarrado. Julgou que o pinto nascera assim...

— Que cavalgadura! exclamou Pedrinho. Bate os perús longe...


VII — MELHOR QUE O PO'


Dona Benta recolheu-se muito cedo naquella noite, depois de tomar um calmante muito bom que o barão tinha. Já os meninos recolheram-se tarde. Ficaram a ver os trophéos de caça do barão e a ouvir de sua propria bocca aventuras espantosas que nenhum dos livros delle conta.

No pedaço mais interessante dellas, porém, foram interrompidos pela chegada dum mensageiro que veio da Allemanha de galope, com uma carta do Imperador.

O barão leu-a e disse, muito aborrecido:

— Que maçada! Tenho de partir incontinenti para meu paiz, que acaba de declarar guerra aos turcos. O Imperador está afflicto pela minha volta.

— E nós? perguntou Pedrinho.

— Vocês podem ficar no castello quanto tempo quizerem. Darei ordem aos creados para que tratem vocês como se fossem os donos.

Disse e foi arrumar as malas. Minutos depois reappareceu para se despedir.

— Até á volta, meninada! Quando a senhora dona Benta acordar, digam-lhe que senti muito não me despedir della, mas que estarei sempre ás suas ordens, na Allemanha ou na Turquia.

— Adeus, senhor barão! Volte logo...

— Traga um turco para mim! gritou Emilia.

O senhor de Munkausen prometteu trazer dois.

No dia seguinte, quando dona Benta acordou e soube da inesperada partida do barão, sentiu de novo a pontada no peito. Começou a se lamentar outra vez.