tiverem compreendido a cena; não se ia passar nada. Ou Luís chegasse ou não, o reconhecimento tinha lugar sem nenhum fato escandaloso; porque a embriaguez de Antônio e a febre de Carolina, a alheação do espírito no primeiro, e o arrependimento da segunda, deixam bem ver que aquele encontro efêmero e casual não podia ter nenhuma consequência.

É o pai no seu horror, e a filha na sua humilhação, que exageram naturalmente o fato, a ponto de um enlouquecer, e a outra cair como morta; mas o espectador não pode sentir como sente o ator de um drama; apenas avalia a situação.

Explicada a minha cena que tem sido tão adulterada, tratarei de mostrar que nos nossos teatros já se viram mais fortes; e para servir-me do mesmo argumento que se emprega contra mim, interrogarei os críticos.

Quando no 2.º ato da Linda de Chamounix o marquês entra em casa da moça, e tem uma conversa de roué; quando na Sonâmbula Amina trazida pelo sonho vem deitar-se no leito preparado para o conde; o que se vai passar?

Mudando porém de tempo, e deixando o futuro pelo presente, perguntarei ainda: quando no 3.º ato do Rigoleto os fidalgos impedem o bobo de entrar no aposento onde sua filha sucumbe à sedução;