Silveira indica que é "nesse sentido o conceito habermasiano de espaço público, no sentido de uma quase-esfera pública, pode ser aqui empregado, embora não sem certa dificuldade. A esfera pública integra o mundo da vida, ou seja, este conceito habermasiano coloca determinados limites em seu uso." (SILVEIRA, 2006, p.78).

Para esclarecer tal análise sobre o mundo da vida habermasiano o autor utiliza-se da explicação proposta por Arato e Cohen que coloca a existência de várias dimensões distintas.

"Ele se refere a um reservatório de tradições implicitamente conhecidas e de pressupostos automáticos que estão imersos na linguagem e na cultura e são utilizados pelos indivíduos na sua vida cotidiana. Por outro lado, o mundo da vida, de acordo com Habermas, contém três componentes estruturais distintos: a cultura, a sociedade e a personalidade. Na medida em que os atores se entendem mutuamente e concordam sobre sua condição, eles partilham uma tradição cultural. Na medida em que coordenam suas ações por intermédio de normas intersubjetivamente reconhecidas, eles agem enquanto membros de um grupo social solidário. Os indivíduos que crescem no interior de uma tradição cultural e participam da vida de um grupo internalizam orientações valorativas, adquirem competência para agir e desenvolvem identidades individuais e sociais. A reprodução de ambas as dimensões do mundo da vida envolve processos comunicativos de transmissão da cultura, de integração social e de socialização" (ARATO e COHEN, 1994:153, apud SILVEIRA, 2006, p.78).

Ainda segundo Silveira, para tornar possível a utilização do ciberespaço como extensão de uma esfera pública "as pessoas privadas conectadas precisarão assimilar que, ao contrário da sociedade industrial, a sociedade em rede apresenta problemas complexos de comunicação, que exigem de um lado especialistas e de outro a transparência completa dos códigos que intermedeiam a comunicação humana." (SILVEIRA, 2006, p.82)

Nesse sentido, pondera que não basta a liberdade nos mecanismos comunicacionais, pois a liberdade para conhecer profundamente os códigos utilizados também é necessária para garantia da imparcialidade das relações. Para Silveira, "os hackers foram os primeiros a demonstrar que a opacidade dos códigos realiza-se contra a liberdade da sociedade". Em face desse contexto, propõe uma análise mais ampla sobre os conteúdos e os mecanismos que devem estar acessíveis nessa nova face da esfera pública. A liberdade comunicacional deve estar acompanhada da liberdade dos códigos digitais, já que estes também se constituem de informações. Na nova face da esfera pública telemática a transparência é uma condição