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CARTAS DE INGLATERRA

que o Brazil deve ao seu sangue portuguez esta bella qualidade de obedecer aos juizos do mundo civilisado. Não ha paiz no universo, onde se despreze mais, creio eu, o julgamento da Europa, que em Portugal: n’esse ponto somos como o vadio das ruas de Caracas, que o Times tão pittorescamente nos apresenta: porque eu chamo desdenhar a opinião da Europa não fazer nada para lhe merecer o respeito. Com effeito, o juizo que de Badajoz para cá se faz de Portugal, não nos é favoravel, nós sabemol-o bem — e não nos inquietamos! Não fallo aqui de Portugal como Estado politico. Sob esse aspecto gosamos uma razoavel veneração. Com effeito, nós não trazemos á Europa complicações importunas; mantemos dentro da fronteira uma ordem sufficiente: a nossa administração é correctamente liberal; satisfazemos com honra os nossos compromissos financeiros.

Somos o que se póde dizer um povo de bem, um povo bôa pessoa. E a nação vista de fóra e de longe, tem aquelle ar honesto de uma pacata casa de provincia, silenciosa e caiada, onde se presente uma familia commedida, temente a Deus, de bem com o regedor, e com as economias dentro de uma meia... A Europa reconhece isto: e todavia olha para nós com um desdem manifesto. Porque? Porque nos considera uma nação de mediocres: digamos francamente a dura palavra — porque nos considera