um deus tutelar e amado, como a encarnação sacramental da alegria domestica.
E no emtanto fóra, na neve, as pobres creanças cantam as lôas: e com que vigor as cantam! É que ellas sabem que não serão esquecidas: e que d’aqui a pouco a grade se abrirá, e virá um criado, vergando ao peso de toda a sorte de cousas bôas, peças de carne, empadas, vinho, queijos — e mesmo bonecas para os pequenos; porque Santo Claus é um democrata, e, se enche os seus alforges para os ricos, gosta sobretudo de os vêr esvaziados no regaço dos pobres.
Tudo isto é encantador. Mas tire-se-lhe a neve, e fica estragado. O Natal com uma lua côr de manteiga a bater n’uma terra tepida de Primavera torna-se apenas uma data no calendario. O lume não tem poesia intima; não ha lôas; Santo Claus não vem; o papá Natal parece um boneco insipido; não se colhe o mistletoe. Não ha mesmo a alegria de abrir a janella e pôr no rebordo, dentro d’uma malga, a ceia de migalhas do Natal para os pardaes e para os outros passarinhos que tanta fome soffrem pelas neves. Emfim, não ha Natal! Foi o que succedeu este anno...
Resta a consolação de que os pobres tiveram menos frio. E isto é o essencial; pensando bem, se nas cabanas houve mais algum conforto e se se não