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CARTAS DE AMOR

que os animava, só lhes restam lágrimas; nem eu lhes dou outro exercício senão o de chorar continuamente, desde o instante que soube estares resolvido a uma separação, para mim tam insofrível, que em breve tempo me acabará.

Parece-me, porém, que de algum modo me afeiçôo a infortúnios, dos quais és a única causa.

Dediquei-te a minha vida apenas te vi, e sinto algum gôsto em fazer-te dela sacrifício.

Milhares de vezes no dia a ti envio meus suspiros, que te procuram por tôda a parte, e não me trazem outra recompensa de tantas inquietações, mais do que um aviso, por demasia sincero, da minha má Fortuna, a qual cruamente não consente que eu me lisonjeie, mas repete-me a cada instante: «Cessa, cessa, ó Mariana desditosa, de consumir-te em vão, e de procurar um amante que jàmais tornarás a ver, que passou os mares para fugir de ti, que vive em França entregue ás suas delícias, e que nem um só momento cuida nas tuas mágoas, que te dispensa de todos êsses transportes, e não sabe agradecer-tos…»

Mas não, eu não posso resolver-me a formar de ti um conceito tam afrontoso, e tenho nímio interêsse em justificar-te. Não quero mesmo imaginar que te esqueceste de mim.

¿E não sou eu já assaz desaventurada, sem que ainda me deixe atormentar por falsas suspeitas?

¿Para que fazer esforços para apagar da memória todos os desvelos, com que anelaste a dar-me provas do teu amor?

Ah! todos êstes desvelos tanto me encantaram, que eu seria uma ingrata, se não te amasse com o mesmo arrebatamento a que me impelia a minha paixão,