— É um achado precioso! Ainda não há dois meses que chegou do Norte, anda às apalpadelas! Estivemos a conversar por muito tempo: — é filho único e tem a herdar uma fortuna! Ah! Não imaginas: só pela morte da avó, que é muito velha, creio que a coisa vai para além de quatrocentos contos!...

Mme. Brizard escutava, sem despregar os olhos de um ponto, os pés cruzados e com uma das mãos apoiando-se no espaldar da cama.

— Ora, continuou o outro gravemente. — Nós temos de pensar no futuro de Amelinha... ela entrou já nos vinte e três!... se não abrirmos os olhos... adeus casamento!

— Mas daí... perguntou a mulher, fugindo a participar da confiança que o marido revelava naquele plano.

— Daí — é que tenho cá um palpite! explicou ele. — Não conheces o Amâncio!... A gente leva-o para onde quiser!... Um simplório, mas o que se pode chamar um simplório.

Mme. Brizard fez um gesto de dúvida.

— Afianço-te, volveu Coqueiro — que, se o metermos em casa e se conduzirmos o negócio com um certo jeito, não lhe dou três meses de solteiro!

A francesa torcia e destorcia em silêncio uma de suas madeixas de cabelo preto, que lhe caíam na testa.

— E ele terá fraco pelas mulheres? perguntou afinal.

O estudante respondeu com um gesto de convicção, e acrescentou:

— Negócio decidido! A questão é arranjar-lhe o cômodo, e já! Tu — fala com franqueza à Amelinha; a mim não fica bem... Olha, até me lembrou dar-lhe o gabinete... Hein? Por pouco tempo... é só enquanto não se desocupa algum dos quartos...