o vinho engarrafado em casa, as mantas de carne-seca ressumbrando sal, o arroz, o café, e o resto.
— Tudo de primeira! repetia com entonação mercantil, a passar ao colega um punhado de feijões. — Tudo de primeira!
— É exato, resmungo Amâncio, sem ver.
Isto agora são quartos de hóspedes, enunciou Coqueiro seguindo adiante. — Aqui embaixo só temos três. Neste, disse mostrando o n.º 1, está Dr. Tavares, um advogado de mão-cheia; caráter muito sério!
No segundo declarou que morava o Fontes:
— Não era mau sujeito, coitado! Fora infeliz nos negócios: quebrara havia dois anos e ainda não tinha conseguido levantar a cabeça.
E abafando a voz:
— Dizem que ficou arranjado... não sei!... Paga pontualmente as suas despesas, mas é um "unha-de-fome", regateia muito, chora — vintém por vintém — o dinheiro que lhe sai das mãos! Está sempre com uma cara muito agoniada, sempre se queixando. E agora, vão ver: — furão como ele só; especula com tudo; tem o quarto cheio de fazendas, fitas e tetéias de armarinho; vende essas miudezas pelas casas particulares, e dizem que faz negócio. A mulher, uma francesa coxa, é empregada na Notre Dame e só vem a casa para dormir.
E, indicando o n.º 3.
— Aqui é o Piloto.
— Que Piloto? perguntou logo Amâncio.
— O Piloto, homem! Aquele repórter da Gazeta!
Amâncio não conhecia.
— Ora quem não conhece o Piloto! um rapaz tão popular. Um que anda sempre muito ligeiro, olhando para os lados, aos pulinhos, como um calango. Não conheces?!