Amâncio disse que saiba quem era — para acabar com aquilo.

— Bom hóspede! acrescentou o outro. — Também só aparece à noite: não incomoda pessoa alguma.

— Bem... disse Amâncio com um bocejo. São horas de ir-me chegando.

— Quê?! bradou Coqueiro. — Tu jantas conosco! Minha gente conta contigo... não te dispensamos! E demais, quero mostrar-te o resto da casa. Vem cá ao segundo andar.

O provinciano lembrou timidamente que isso podia ficar para outra ocasião; mas Coqueiro respondeu puxando-o pelo braço na direção da escada:

— Venha cá! Não seja preguiçoso!

Depois de subir, acharam-se em corredor estreito e oprimido pelo teto. Ao fundo uma janela de grades verdes coava tristemente a luz que vinha de fora. Lia-se nas portas, em algarismos azuis, pintados sobre um pequeno círculo branco, os números de 4 a 11.

— Aquilo tinha aspecto de casa de saúde... pensou Amâncio, com tédio. — Não devia ser muito agradável morar ali. Todos os quartos, entretanto, estavam tomados.

Coqueiro principiou logo, em voz soturna, a denunciar os competentes moradores: — N.º 4 — Campelo, um esquisitão, porém bom sujeito, de comércio; não comia em casa senão aos domingos e isso mesmo só de manhã. N.º 5 — Paula Mendes e a mulher; casal de artistas, davam lições e concertos de piano e rabeca; muito conhecidos na Corte. N.º 6 — Um guarda-livros; bom moço; tinha o quarto sempre muito asseadinho e à noite, quando voltava do trabalho, estudava clarineta. O n.º 7 era de um pobre rapaz português; doente: vivia embrulhado em uma manta de lã, por cima do sobretudo, e saía