Pereira abriu os olhos e disse lentamente:

— O Cântico do Calvário!

— És um idiota! respondeu a mulher.

A resposta de Pereira provocou hilaridade. Amâncio consultou logo a opinião de Lúcia sobre o Varela. Mme. Brizard falou então dos versos do marido, prometeu que os mostraria depois do jantar.

Amâncio soltou uma exclamação de espanto:

— Ignorava que Coqueiro também fizesse versos!

— Faço-os, confirmou este — mas só para mim, publiquei já alguns com pseudônimo. Receio a convivência dos literatos que formigam por aí, esfarrapados e bêbedos. Não me quero misturar com eles. Faço versos, é verdade, mas tenho a presunção de escrevê-los como devem ser e não acumulando extravagâncias e disparates para armar ao efeito! Faço versos, mas não tomo parte nessas panelinhas de elogio mútuo e nesses grupos de imbecis escrevinhadores!

E, com muito azedume, com durezas de inveja, principiou a dizer mal dos rapazes que no Rio de Janeiro se tornavam mais conhecidos pelas letras.

— Pedantes! resmungava. — Súcia de idiotas! Hoje todos querem ser escritores; sujeitinhos que não sabem ligar duas idéias, arrogam-se, da noite para o dia, os foros literatos! Uma cambada!

E ria-se com um gesto amargo de desgosto.

Lúcia e Lambertosa defendiam timidamente alguns nomes.

— Ora o que, senhores! replicava Coqueiro furioso e pálido. — Qual é aí o tipo da tal "geração moderna" que se possa aproveitar?... Não me apontam nenhum! São todos umas bestas!

— Coqueiro!... repreendeu Mme. Brizard em voz baixa.

— São todos umas nulidades, uns zeros!...