Amâncio sentiu um grande alívio, quando se achou afinal inteiramente só; a porta do quarto bem fechada e a luz do bico de gás quase extinta.

Estava morto de fadiga. As enfadonhas conversas de Coqueiro e Mme. Brizard, o jugo inquisitorial das cerimônias, a pândega da véspera, tudo isso dava àquela caminha fresca, de lençóis limpos, um encanto superior ao que houvesse de melhor no mundo. Seu corpo, quebrado de impressões diversas e na maior parte consumidoras e lascivas, bebia aquele repouso por todos os poros, voluptuosamente, como um sequioso que se metesse dentro da água.

Aninhou-se, encolheu-se, abraçado aos travesseiros, ouvindo com uma certa delícia esfuziar o vento nas portas e, lá fora, desencadear-se o temporal, arremessando água aos punhados contra telhas e paredes.

E deixava-se arrebatar pelo sono, como se deslizasse por uma ladeira interminável de algodão em rama.

Os acontecimentos do dia começaram a desfilar em torno de sua cabeça, em procissões fantásticas de sombras duvidosas e fugitivas. Dentre estas, era o vulto de Lúcia o que melhor se destacava, com o seu andar quebrado