e voluptuoso, a remexer os quadris, atirando a barriga para a frente. Chegava a distinguir-lhe perfeitamente os grandes olhos amortecidos e a sentir-lhe o perfume que ela trazia essa tarde no lenço e nos cabelos. Em seguida vinha a outra, a Amelinha, mas não com a lucidez da primeira. E logo depois Mme. Brizard, com o seu todo pretensioso; Nini, a fitá-lo muito aflita, as mãos inchadas e sem tato, o cabelo escorrido sobre a cabeça, cheirando a pomada alvíssima, bata de lã escura e sinistra como um burel. E depois, numa confusão vertiginosa — Coqueiro, a berrar versos, dançando no ar e a sacudir em uma das mãos um punhado de feijões pretos; e Paula Mendes a jogar os murros com a mulher; e Dr. Tavares a discursar com os braços erguidos para o ar; e César, o menino prodígio, a escarafunchar o nariz freneticamente; e Pereira, de olhos fechados, a andar como um sonâmbulo; e o...

Mas os vultos de todos se confundiam e desfibravam, como nuvens que o vento enxota. Amâncio já os não distinguia.

Acordou às oito horas do dia seguinte, meio inconsciente do lugar onde se achava. Logo, porém, que caiu em si, levantou-se de um pulo e abriu a janela de par em par. Um jato de luz dourada invadiu-lhe a alcova.

Olhou a manhã, que estava de uma transparência admirável. A chuva de véspera limpara a atmosfera; corria fresco. Os bondes passavam cheios de empregados públicos; viam-se amas-de-leite acompanhando os bebês; senhoras que voltavam do banho de mar, o cabelo solto, uma toalha ao ombro.

Aquele movimento era comunicativo. Amâncio sentiu vontade de sair e andar à toa pelas ruas. Todo ele reclamava longos passeios ao campo, por debaixo de árvores, em companhia de amigos.