guiu Amâncio, com o rosto esfogueado de comoção. — Quanto fora injusta! O seu ideal, dele, era justamente o casamento; era possuir uma mulherzinha, cheirosa e meiga, com quem passasse a existência, ditosos e obscuros no seu canto, vivendo um para o outro, ignorados, egoístas, não cedendo nenhum dos dois, a mais ninguém, a menos particulazinha de si — um sorriso que fosse, um olhar amigo, um aperto de mão!

— Que rigor! exclamou Hortênsia, tomando certo interesse pelo que dizia o estudante. — Que rigor! Não o supunha assim, seu Amâncio!...

— Oh! Era assim que ele entendia o verdadeiro amor!...

E, cada vez mais quente:

— Era assim que ele amaria! Era assim que ele cercaria de beijos o anjo estremecido que o quisesse recolher à tepidez consoladora de suas asas! Era assim que ele sonhava a existência de duas almas gêmeas, soltas no azul, gozando a voluptuosidade do mesmo vôo.

— Pois é casar-se, meu amigo... aconselhou a mulher de Campos, pasmada de ouvir Amâncio falar daquele modo. — Não o fazia tão prosa!...

E, como era preciso dizer qualquer coisa, acrescentou muito amável:

— Quem sabe se alguma fluminense já não lhe voltou o miolo!...

Ele confessou que sim, sacudindo tristemente a cabeça. E, de tal modo exprimiu o seu amor por "essa fluminense", tão ardente e tão apaixonado se mostrou, que Hortênsia instintivamente se ergueu, a olhar para os lados, sobressaltada como se tivesse cometido uma falta.

Não quis saber de quem se tratava.

Deu uma volta pela sala, foi ao aparador, tomou