praça e dois terrenos hipotecados ao Banco Predial. A coisa única que ela aproveitou foi Cora, mulatinha de criação, cuja matrícula e cuja escritura de compra estavam em seu nome.

Era preciso, pois, deixar a casa; os credores reclamavam tudo que pudesse dar dinheiro. Pereira sacudia os ombros; dir-se-ia que não houvera a menor alteração na sua vida. Continuava a dormir tranquilamente, como se as sopas do tio ainda o fossem procurar às horas da refeição.

Lúcia compreendeu que não devia contar com ele, e tratou em pessoa um cômodo para os dois, num hotel de arrabalde. Sentia-se resoluta e forte: era ela agora o cabeça do casal; tinha belos projetos de trabalho: daria lições de piano, de desenho e de francês, até que aparecesse um homem para substituir o estafermo do Pereira.

O homem, porém, não aparecia, como não apareciam os discípulos.

Principiou então para eles um viver perfeitamente de boêmios. Sem trastes, nem dinheiro, nem futuro, nem relações constituídas, andavam aquelas duas almas perdidas e mais a Cora, que adorava a senhora, a percorrer as casas de pensão: sempre sobressaltados, sempre perseguidos pelos credores que iam deixando atrás de si.

Em cada lugar se demoravam o maior tempo que podiam, dois, três, quanto muito quatro meses; até que lhe suspendiam o crédito e os dois levantavam novamente o vôo, deixando a dívida em aberto e o dono da casa lívido, colérico, sem saber ao menos que direção tomavam os vagabundos.

Nesse peregrinar, Lúcia teve uma contrariedade mais profunda — achou-se grávida de novo. Cora deu-lhe conselho, trouxe-lhe remédios para fazer abortar; nada entretanto, produziu efeito.