o cheiro do fumo e queixava-se de muita sede e comichão pelo corpo.

Amelinha, sempre irrequieta e passarinheira, preparava-lhe copos de água com açúcar. Agachava-se à borda da cama, mexia e remexia com a colher o sacarífero calmante e, depois de o provar com a pontinha da língua, passava-o às mãos de Amâncio. Este, porém, mal bebia, voltava-se de novo para a parede, gemendo de olhos fechados.

Pelas duas horas da tarde, Lúcia pediu licença para lhe fazer uma visita. Entrou cheia de cerimônia, e assentou-se gravemente em uma cadeira, à cabeceira do leito.

O doente voltou-se logo e agradeceu-lhe aquela fineza com um olhar muito triste e injetado de sangue.

Ela mostrava-se interessada; pedia informações a respeito da moléstia. Amâncio respostava com dificuldade. Parecia moribundo.

Mas, quando Amélia saiu e desceu ao primeiro andar, ele tomou rapidamente as mãos da outra e cobriu-as de beijos que a febre tornava mais ardentes e mais queimosos.

— Eu te amo! Eu te amo! dizia ele.

— Bem, mas fique quieto! Isso pode fazer-lhe mal! retrucava a suposta mulher de Pereira. — Nada de tolices! Deite-se! Deite-se!

Amâncio libertou os braços do cobertor, apoderou-se da cabeça de Lúcia, e começou a beijar-lhe os olhos, a boca e os cabelos, numa sofreguidão irracional.

As lunetas da "ilustrada senhora" haviam caído, e ela encarava o rapaz, sem dizer palavra, a lhe cavar os seus grandes olhos de míope, alterados pelo abuso do vidro de graduação.

Tiveram de disfarçar, porque alguém se aproximava.