a existência, só porque alguma coisa me fazia acreditar que ainda um dia seríamos felizes!...

— E por que não havemos de ser?... perguntou Amâncio condolentemente.

— Ora!... prosseguiu ela — tudo me persegue, tudo me sai contrário... Foi bastante que eu te amasse, foi bastante pensar que poderíamos ser um do outro, para que aqui se levantassem todos contra mim e ferissem a guerra que tens visto!

E, desagarrando-se de Amâncio, para segurar de novo a cabeça, num movimento de embaraço doloroso:

— Mas, imagina tu, que estou inteiramente sem recursos!... Tenho que fazer a mudança e ainda não sei como pagar o carreto das malas!... Vê tu que situação, que triste situação!

Amâncio beijou-a na boca e perguntou se ela não lhe dava uma esperançazinha para depois que se mudasse.

Lúcia respondeu que dava, não uma esperança, mas "uma certeza". E, sem desprender os lábios dos lábios do rapaz, afiançou — que lhe mandaria dizer por escrito o lugar onde seria encontrada; e que ele fosse por lá as vezes que entendesse. — Aí ao menos estariam livres de Coqueiro e das outras pestes!

— Prometes então?... insistiu ele, procurando garantir o compromisso.

— Prometo, prometo o que quiseres, tudo! disse ela, ainda chorosa.

Amâncio foi à algibeira do fraque, abriu a carteira. Havia trezentos mil-réis, tomou uma nota de cem e entregou-a a Lúcia, dizendo com pesar que era o único dinheiro que possuía na ocasião.

— Talvez te façam falta... considerou ela escrupulosamente, sem querer tocar na cédula.