Sabino, o tísico, vieram-lhe à memória. Ouriçaram-se-lhe os cabelos, enlixou-se-lhe a pele, e o coração bateu-lhe com mais força. — Que teria sucedido? A mão tremia-lhe ao forçar o trinco.

A porta afinal cedeu, e Amâncio sentiu cair desamparadamente no chão o corpo comprido e nu do tísico.

Estava horrível. Queria erguer-se, e em vão agitava as pernas e os braços. Amâncio tentou ajudá-lo, gritando ao mesmo tempo pelo Sabino. Os membros do tísico pareciam quebrar-se-lhe nas mãos, que escorregavam com a gordura fria do suor, e no soalho manchas de umidade desenhavam-lhe já o feitio do corpo.

O estudante desejava chamar por alguém. — Sabino dormia com certeza! — Peste! Fez um movimento para sair; mas o esqueleto agarrou-lhe violentamente os pulsos e pediu-lhe com uns vagidos dolorosos que ficasse.

De seus olhos corriam duas lágrimas compridas.

Depois de um esforço terrível, conseguiu falar. Eram sons apenas murmurados, fracos, quase imperceptíveis.

Amâncio tinha razão: o desgraçado, no delírio de sua fraqueza, o tomara por algum bom amigo. Suas palavras vinham-lhe aos lábios roxos impregnadas de confiança e de amor. Falava de coisas estranhas ao outro; perguntava-lhe por indivíduos desconhecidos para Amâncio e reprovava-lhe a culpa de não ter vindo mais cedo.

Depois referiu-se dolentemente a sua terra; tratou da infância, rindo, com os olhos cheios d'água. Pediu que Amâncio, logo que lá voltasse, fosse à procura do senhor padre, e encomendasse-lhe três missas.

Em seguida, fez um esforço para chegar ao ouvido do rapaz e começou, em ar de mistério, a ensinar-lhe um caminho longo, muito longo... Ensinava-lhe ruas, as voltas que era necessário fazer para chegar lá; afinal, dava-se com uma choupana. Uma velhinha entrevada