— Ora, filho! Queres tu agora dizer a mim o que é a gente do Coqueiro!...

Amâncio abriu grandes olhos.

— Morde aqui! acrescentou o outro, apresentando-lhe o dedo.

E em troca de um gesto negativo do amigo:

— Não queres falar por ora, e fazes tu muito bem! Mas é impossível que a tua ingenuidade chegue ao ponto de tomares a sério a irmã de Coqueiro — a Amélia dos camarões!...

— Juro-te que, até aqui, só a tenho tratado com todo o respeito!

O outro soltou uma risada.

— É fato! insistiu Amâncio, aborrecido já com aquela troça do companheiro, mas ao mesmo tempo feliz por imaginar que as suas esperanças sobre a rapariga eram perfeitamente justificáveis.

— Pois, se é fato, acredita que tens representado um papel de tolo! Fazem-te a barba, filho!

Amâncio, então, para provar a pureza de sua conduta, pintou o estado em que se achara ultimamente — entrevecido de reumatismo, sem préstimo para nada. E contou o que sofrera com as bexigas.

— Ora, dize-me cá... volveu o outro em tom de segredo. — Coqueiro já te não tem dado algumas facadinhas... Confessa...

Amâncio, nem só confessou, como disse até o dinheiro que por várias vezes emprestara ao senhorio.

— Hein?! bradou Paiva, fazendo-se muito fino. — Queres mais caro?... E ainda tens escrúpulos, criança! Pois olha que te não fazem nenhum favor — tu pagas, filho, e pagas bem!

E lembrou que não seria mau tomarem alguma coisa num botequim próximo.